O Brasil vive um momento inédito e decisivo em sua história – eleições presidenciais em um período em que nunca estivemos tão polarizados politicamente. Soma-se nesse contexto uma crise econômica e os diversos efeitos de uma pandemia global. Tudo isso em uma sociedade cada vez mais conectada, onde tudo pode viralizar e se tornar alvo de julgamento na velocidade das redes sociais, sempre a um clique de distância de praticamente todo cidadão.
Ao mesmo tempo, entendemos que, do ponto de vista econômico e da matriz produtiva, o Brasil e o mundo vivem um momento crítico de transição. Estamos vivendo uma nova revolução industrial, pautada pela aceleração tecnológica cada vez mais acentuada, em que soluções automatizadas, impulsionadas por inteligência artificial, mecanização e redes cada vez mais velozes e onipresentes. Essa revolução deve ser responsável por um movimento de substituição em massa de empregos tradicionais, começando por aqueles de menor qualificação – onde se situam a maioria dos brasileiros.
Um exemplo é o trabalhador do campo. Temos visto recordes de safras e aumento de exportações, simultaneamente a uma redução na quantidade de empregos no meio rural. A tecnologia e automação no campo melhoram a produtividade por um lado, mas ao mesmo tempo reduzem o volume de mão-de-obra necessária.
Nesse contexto, o ecossistema de startups tem uma importância ainda mais fundamental na geração de novos tipos de empregos. As startups são o principal nascedouro das novas soluções tecnológicas. E, via de regra, apesar de alto risco em sua fase inicial, apresentam um crescimento exponencial quando bem sucedidas, dada à natureza de alta escalabilidade de suas soluções. Não à toa, vimos o nascimento de dezenas de unicórnios – empresas avaliadas em mais de U$ 1 bilhão – no Brasil nos últimos 4 anos, algumas delas tendo atingido a marca em poucos anos. Estimular o surgimento e crescimento dessas inovações localmente vai ser cada vez mais crucial para as economias mundiais.
A rápida velocidade de crescimento de startups, associada a um baixo investimento inicial – sem necessidade de infra-estruturas complexas, em comparação com o setor industrial, por exemplo – as torna ainda mais estratégicas em momentos de recuperação econômica. Elas geram empregos de forma rápida, crescente e são ambientalmente mais corretas, se comparadas à indústria tradicional. Também trazem intrinsecamente diversos efeitos benéficos para a economia. São consideradas “portadoras de futuro”, já que oferecem soluções inovadoras que geram um aumento da eficiência de todo tipo de processo. Desse modo, a própria adesão dessas soluções pela sociedade gera incrementos de eficiência no sistema produtivo, aumentando a competitividade econômica.
Startups também são alavancadoras do investimento, já que são fortes veículos de atração de capital – tanto de origem interna como externa. Diferentemente do investimento do capital especulativo, os investimentos em startups são injetados diretamente na economia, com a geração de empregos diretos e contratação de produtos e serviços e pagamentos de impostos. Se considerarmos que boa parte dos profissionais de startups são geralmente de alta qualificação e bem remunerados, cada emprego no setor alavanca a geração de diversos outros empregos indiretos ao longo da cadeia econômica.
Há ainda uma dimensão estratégica no desenvolvimento de ecossistemas locais de startups, ligados ao domínio tecnológico. Os países produtores de tecnologias de alto valor agregado tendem a concentrar divisas ao vendê-las aos demais. Do ponto de vista do trabalho, muitos empregos de baixa qualificação tendem a ser substituídos por poucos postos de trabalho, altamente qualificados, dentro dessas empresas. Por isso, é estrategicamente importante que os países busquem construir, atrair e fixar empresas tecnológicas em seus territórios para evitar a fuga de cérebros para outros países, o famoso “brain drain“.
Países do mundo todo já entenderam que investir em startups é um ótimo negócio para promover o desenvolvimento econômico e social, com efeitos benéficos no curto e longo prazo, inclusive na arrecadação estatal. Um estudo realizado pela consultoria britânica Grant Thornton, em parceria com a Associação Anjos do Brasil, baseado em casos internacionais, mostra que cada R$ 1,00 aplicado em investimento anjo, R$ 5,84 são gerados na economia e R$ 2,21, em forma de tributação. Por isso, vários países desenvolvem políticas públicas de incentivo, estímulo e apoio ao desenvolvimento do ecossistema de startups, que seguem crescendo e se ampliando de forma ainda mais intensa entre as grandes economias mundiais.
É aqui que mora o desafio e, ao mesmo tempo, a grande oportunidade para o Brasil. Podemos ser vítimas ou protagonistas desse movimento, a depender de como nos posicionamos em relação às nossas prioridades, investimentos e políticas estruturantes ligadas ao setor. De fato, é inevitável sofrer os efeitos negativos da substituição de empregos em massa que se anuncia. Mas podemos nos posicionar como geradores de soluções tecnológicas, que promoverão os novos empregos e geração de renda nesta nova era.
Mas quando não temos clareza das prioridades e não fazemos os devidos investimentos para criar condições reais ao desenvolvimento de uma cultura e negócios digitais, estamos assumindo o risco de ficarmos apenas com o lado negativo dessa equação: a queda em massa de empregos pouco qualificados aqui e escassez de mão de obra qualificada que dificulta o crescimento das empresas, em troca da geração de novos postos de trabalho qualificados para engenheiros de computação e de negócios de grande potencial, em regiões como o Vale do Silício, Europa, China e Índia.
O ecossistema de startups e empreendedorismo inovador brasileiro evoluiu muito nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios bastante relevantes para atingir todo seu potencial de desenvolvimento, especialmente em relação à falta de um ambiente regulatório, fiscal e burocrático adequado, assim como a ausência de profissionais qualificados em quantidade suficiente, investimentos mal distribuídos, dentre outros.
A Dínamo é composta por um grupo de especialistas desse setor, que na última década atuou em diferentes subáreas e desde 2015 se reuniu nesta associação, com o objetivo de representar o ecossistema junto ao poder público, apoiando a elaboração e melhoria de políticas públicas voltadas à promoção de um ambiente que favoreça a inovação tecnológica no Brasil.
Reunimos neste documento, o resumo de um conjunto de iniciativas e políticas públicas estruturantes, que entendemos serem fundamentais para direcionar o desenvolvimento do ecossistema de inovação, empreendedorismo e startups em face aos desafios e oportunidades do momento atual. Nossas propostas estão divididas em 7 eixos, que em nossa visão compõem os pilares de formação do ecossistema. São eles:
- Talento
- Investimento
- Ambiente Regulatório
- Cultura
- Densidade
- Diversidade
Leia, divulgue, compartilhe a carta com as pautas aos candidatos