A Entrevistada de hoje é Allana Cardoso. Uma mulher negra e cisgênera. Tem cabelos curtos e cacheados e olhos escuros, tem 30 anos e vive em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ela é historiadora, pós-graduanda em Ciência de Dados pela PUC-Minas e atua na Ciência de Dados há dois anos em uma consultoria global. Allana é uma estudiosa das áreas de impacto social, inclusão e permanência das diversidades nos ambientes de educativos e profissionais, tecnologia e inovação. “No meu campo de atuação, sou aquela que estuda e propõe reflexões sobre os rumos da criação e usos da Inteligência Artificial, a partir de um olhar politizado e crítico. Além disso, sou apaixonada pelas montanhas, músicas e comidas das Minas e das Gerais!”.
- Dinamo: O que é inovação para você? (O seu conceito de inovação, aquele que você mais usa, mais acredita ou vivencia na prática)
Allana Cardoso.: Inovação, a partir do meu olhar, é como fazemos de forma mais eficiente e escalável aquilo que já existe. É se atentar para as novas realidades e necessidades, mas sem nos esquecermos as essências, culturais e saberes que vieram antes.
- Dinamo: O que muda na sociedade e nos negócios com a potencialização de empreendimentos liderados por mulheres e por pessoas negras?
Partindo do fato de que as mulheres negras são 25% da população brasileira e são a maioria das “chefes” de família no nosso país, quando mudamos a realidade financeira e econômica destas mulheres, estamos mudando a realidade de famílias e gerações inteiras. O que muda é que, partindo dessa potencialização, poderemos chegar, lá na frente, em um futuro no qual essas famílias estarão presentes nos espaços de decisão sobre as suas próprias vidas e poderão criar e contar as narrativas de suas trajetórias.
allana cardoso
- Dínamo: Os desafios são vários e ainda há muito o que ser transformado. Mas, na sua perspectiva, o que mais te incomoda na ausência de mulheres, pessoas negras e outros grupos sub representados no universo da inovação tecnológica hoje em dia?
Allana Cardoso.: O que mais me incomoda é que são a partir desses ecossistemas que nascem as soluções para os problemas das vidas de pessoas negras como eu. Assim, eu devolvo a pergunta: Como essas soluções podem atender às minhas necessidades, se eu não sou parte do corpo que propõe estas soluções?
- Dínamo: Você está construindo propostas de políticas públicas junto ao Dínamo para gerar avanço nesta pauta em nível nacional e no longo prazo. Mas o que você entende que poderia ser feito no curto prazo por municípios e estados, sem ter que esperar propostas serem aprovadas no âmbito federal?
Allana Cardoso.: Criação de ambientes de sensibilização e trocas de saberes sobre todas essas temáticas, pode ser um grande primeiro passo.
- Dínamo: E o que uma pessoa empreendedora de uma startup poderia fazer hoje para mudar esta realidade?
Allana Cardoso.: Compartilhar o seu conhecimento, aprender com essas mulheres e sensibilizar os pares para que também invistam nesses negócios.
- Dínamo: Estamos em ano de eleições. O que você diria às pessoas eleitoras para observar e cobrar das pessoas candidatas este ano?
Allana Cardoso.: O plano de governo diz muito sobre a intenção dessas pessoas candidatas, bem como a forma como elas utilizaram os recursos públicos em mandatos anteriores, quando houveram. É muito importante nos informarmos sobre o histórico político dessas pessoas e acompanhar o cumprimento do plano proposto no momento da eleição.
- Dínamo: Quais personalidades, movimentos ou organizações você considera relevantes atualmente na sua área de atuação e temas de interesse e indica para a pessoa leitora do Observatório prestar atenção?
Allana Cardoso.: Open Knowledge Brasil, Monique Evelle, Fa.vela (de Belo Horizonte/MG).
- Dínamo: Que filme/ livro/ série você curtiu nos últimos tempos ou que te marcou e você gostaria de indicar? (Sobre qualquer tema. Comente um pouco para a pessoa leitora ter um pouco de contexto)
Allana Cardoso.: Recentemente li o livro Storytelling com Dados da autora Cole Nussbaumer Knaflic. Apesar de ter um conteúdo voltado para dados, é possível, a partir da leitura do livro, aprender sobre como criar e apresentar histórias atrativas em qualquer área e sobre qualquer tema. Essa é a minha indicação.
- Dínamo: De que forma a sua trajetória se conecta com a trajetória do Dínamo quanto ao reconhecimento da importância pela busca por maior inclusão no ecossistema de Inovação e Tecnologia?
Allana Cardoso.: Eu sou aquele projeto que a sociedade torce para que dê errado: sou criada em uma ocupação da zona leste de SP, me mudei adolescente com minha família para uma cidade pequena, zona rural do Norte de MG, tive acesso a uma educação de péssima qualidade e encontrei nos estudos e posteriormente na Tecnologia e na Inovação uma forma de salvar a minha vida e recriar a minha realidade. A partir da Tecnologia, Inovação e a Educação, eu saio de um lugar de vulnerabilidade para um lugar de quem propõe tomadas de decisões mais inteligentes e viáveis.
- Dínamo: O que te mobilizou no convite para participar do GT de Diversidade e Inclusão do Dínamo? O que você gostaria de realizar com este grupo?
Allana Cardoso.: Eu vi neste convite a oportunidade de sensibilizar gestores públicos e privados a olharem para as potencialidades de pessoas que vieram de lugares como eu vim.