A (r)evolução tecnológica digital, a partir do rompimento de uma série de barreiras (legais, geográficas, industriais), tem nos munido de novas formas de interagir, consumir, nos relacionar. Por consequência deste processo surgem novas oportunidades de mercado para explorar. Por exemplo, tecnologias digitais reduzem a necessidade de agentes intermediários em diversas cadeias produtivas, conferindo maior autonomia a fornecedores de produtos/serviços para que possam projetar suas atividades e alcançar públicos em escala global.
A presença cada vez mais expressiva das gigantes de tecnologia da informação no ranking das empresas de maior capital de mercado é uma evidência da escala deste fenômeno. Segundo a Financial Times, em 2001, entre as 10 companhias de maior valor de mercado do mundo, representavam o setor de Tecnologia da Informação (considerando indústria de software e hardware): Cisco Systems (2º lugar, $304,7 bi), Microsoft (5º lugar, $258,4 bi), e Intel (9º lugar, $227 bi). Dados do YCharts mostram que, em 2021, o ano se encerrou contando com a presença, entre as Top 10, de: Apple (1º lugar, $2,9 T), Microsoft (2º lugar, $2,5 T), Alphabet (3º lugar, $1,9 T), Amazon (4º lugar, $1,7 T), Meta (6º lugar, $935 bi), Nvidia (7º lugar, $732,9), TSMC (9º lugar, $623,9 bi), e Tencent (10º lugar, $559,9 bi).
Se a mudança entre as principais companhias globais nestes dois períodos chama a atenção para a escala de mercado gerada a partir das tecnologias digitais, o contexto das startups também evidencia este potencial tecnológico. Em 2013, Aileen Lee, uma investidora de capital de risco, apelidou de “unicórnios” as startups com valor de mercado igual ou superior a $1 bi; feito raro, à época, alcançado por restritos 39 empreendimentos ao redor do mundo. De acordo com o CBInsights, em Julho de 2022, o número de unicórnios ao redor do mundo superou a faixa de 1.100. Por óbvio, este potencial econômico gerado a partir das startups tem levado regiões ao redor do mundo a entrar em uma “disputa” em série para se tornar a terra dos unicórnios. Uma busca para emular o “sucesso” do californiano Vale do Silício. Cidades como Tel Aviv (Israel), Cidade do Cabo (África do Sul), Estocolmo (Suécia), assim como as brasileiras Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS) e Recife (PE) estão passando por mudanças significativas a partir da mobilização de diversos agentes em prol da ativação dos ecossistemas de empreendedorismo e inovação em suas localidades.
Onde a problemática da ausência da diversidade entra em tudo isto? No processo pela busca desenfreada em atrair e reter “negócios disruptivos”, pouca atenção tem sido dada à heterogeneidade de quem está(ão) sendo beneficiado(s) com acesso a tais tecnologias, formações e redes para a geração e desenvolvimento de tais empreendimentos.
Um mapeamento recente realizado nos ecossistemas de Chicago e Orlando (ambos nos EUA) evidenciou esta lacuna. Neste estudo, pesquisadores mostram que, nestes ecossistemas, negócios de alto potencial de crescimento e alta adoção tecnológica são majoritariamente liderados por empreendedores brancos, homens, conectados a programas de aceleração e redes de comercialização tecnológica; por outro lado, empreendimentos de sobrevivência são predominantemente liderados por empreendedores não-brancos, mulheres, geralmente sem acesso e sem conexão às principais instituições ativas nos ecossistemas.
O conceito de ecossistema, desde a sua origem em estudos de Ecologia, traz a importância de serem considerados os mais variados elementos contribuindo para o (e compartilhando do) destino de toda a rede. No caso de uma floresta, é imperativo se considerar a relevância da biodiversidade para a manutenção do equilíbrio do ecossistema ali presente.
Traçando um paralelo para o contexto urbano/regional, a abundância em Diversidade Social irá contribuir não apenas (mas também) para a redução de desigualdades nestas novas dinâmicas de mercado, mas também proporcionará ao próprio ecossistema de startups diversidade nas soluções que nele são geradas, aumentando o potencial alcance e escala dos seus negócios. Com a ausência de Diversidade e reprodução de estruturas excludentes, quem perde é o próprio ecossistema, que se torna limitado e fadado ao fracasso.
Diego S. Silva é membro do GT de Políticas Públicas de Diversidade do Dínamo, Coordenador do Programa INOVA RS na Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, e Doutorando em Engenharia de Produção na UFRGS.
Você pode conhecer o nosso Mapeamento de Políticas Públicas Afirmativas de Gênero e Raça e pode também se engajar neste diálogo e neste esforço para um Ecossistema de Startups mais diverso e inclusivo. Para começar, acesse https://www.dinamo.org.br/diversidade.