Ainda hoje, mesmo após todas as evidências científicas, há os que questionam a eficácia da vacina para a diminuição do agravamento da pandemia. Em ano com tamanha polaridade de discursos, eu não discuto mais, somente uso a camiseta: “Jamais refute ciência com opinião”.
O Brasil é um dos países com maior abismo educacional no mundo e sabemos que sem um pensamento crítico, somos muito mais manipuláveis. O investimento na Educação nunca foi tão baixo e ao mesmo tempo tão urgente. Isso se refere à educação básica e se estende até a educação superior, extensão e pesquisa.
Haja vista que nos últimos anos, as instituições de ciência, pesquisa e ensino superior foram enfraquecidas por meio de uma política intencional de redução de recursos para projetos, bolsas, além da disseminação de mentiras e questionamentos sobre o papel e relevância destas instituições para a sociedade. Quem não se lembra do ataque às universidades públicas, ao IBGE, ao Ipham, Inpe, Fundação Oswaldo Cruz, IBAMA entre outros?
Mas para além das políticas deletérias do atual governo, o Brasil sofre historicamente com uma distância e muitas vezes, uma polarização entre sociedade/ mercado e academia/ ciência. Devido à história de formação de ambos, cada um se formou em um campo de valores e práticas que raramente encontram ponto de aproximação. De um lado, o conhecimento sendo desenvolvido por e para os entendidos. O poder público, ainda que menos do que o necessário, financia estas pesquisas. E, na maioria das vezes, não direciona parte dos recursos para aproximar a academia das necessidades do mundo real. A sociedade, por sua vez, permanece carente de soluções para problemas básicos de desenvolvimento humano e dignidade. Há ainda, interesses do mercado, regido pelo capital e consumo, que cria e traz novas demandas de forma acelerada.

Uma das várias lições que poderíamos tirar da pandemia é a importância da divulgação e popularização científica para o bem estar geral da sociedade. Se a população de forma geral, não conhece nem entende a atuação das instituições produtoras de conhecimento e tecnologia, como vai compreender a necessidade de aumentar os investimentos em ciência, justamente em um momento em que a fome voltou ou se intensificou nas famílias mais vulneráveis e colocou na rua milhares de pessoas desempregadas?
O biólogo e doutor em microbiologia, Atila Iamarino, se transformou no maior influenciador científico durante a crise da Covid-19 por trazer esclarecimento sobre o contexto de maneira acessível a toda população. Sua atuação demonstra como a comunicação dos profissionais e instituições de Ciência e Tecnologia é fundamental para garantir diálogo com a sociedade e relevância. Muitos outros cientistas, como ele, já fazem este esforço há anos. Mas durante a pandemia, os canais de ciência no youtube aumentaram em volume, diversidade e seguidores.
Marcelo Souza é cearense, físico e fundador da Bright Photomedicine – uma healthtech que criou um remédio digital capaz de tratar a dor. A startup surgiu de sua tese de doutorado sobre fotobiomodulação, tendo desenvolvido uma solução tecnológica analgésica não-invasiva e sem efeitos colaterais.
Somente em Harvard compreendeu que a solução poderia se transformar em negócio e que, para isso, seria necessário entrar em um programa de aceleração e também buscar a comunicação não somente com a comunidade científica, mas com empreendedores, investidores, profissionais da área da saúde e outras healthtechs. Ele escreveu artigos e participou de várias comunidades, ganhando assim mais visibilidade. A imprensa também tem papel crucial neste caminho.
O biólogo paranaense Paulo Garbugio é co-fundador da Arboran, que surgiu para acelerar a arborização urbana. O pesquisador usou todo conhecimento técnico que teve dentro da academia para ajudar a diminuir as ilhas de calor que influenciam no microclima das cidades. Cases como este ainda são pouco divulgados e tem dificuldades de obter recursos. E na maioria das vezes são sempre os mesmos unicórnios que ganham espaço na grande imprensa.
Mas de forma geral, prevalece a situação de muitos pesquisadores fechados em laboratórios e bibliotecas. Os artigos acadêmicos, com jargões da área, são direcionados a um público bastante específico.
Temos uma dificuldade histórica das nossas universidades dialogarem com o mercado e com a sociedade. Não podemos deixar que todo este conhecimento fique fechado a 7 chaves. Precisamos que os cientistas fortaleçam seus canais de divulgação, entendendo seu papel social e seu potencial econômico.
A comunicação científica foi acelerada na pandemia e devemos usar este momento a nosso favor. Escrevam, divulguem, gritem se for preciso! O nosso futuro está em suas mãos.
Por Beatriz Bevilaqua, Jornalista e Comunicadora de Startups