Mariana Pedron Macário, especialista em relações raciais e justiça nas organizações. Formada em direito, atuou com defesa de interesses e formulação de políticas públicas. Desde 2016 trabalha de forma interdisciplinar com indivíduos e organizações, grupos e instituições para o enfrentamento do racismo.
- Dínamo: O que é inovação para você? (O seu conceito de inovação, aquele que você mais usa, mais acredita ou vivencia na prática)
Mariana: Para mim, inovação é resolver, para alguém, um problema. Mas de forma mais satisfatória do que se vinha pensando e fazendo até então. Ou então, resolver um problema que uma pessoa nem tinha se dado conta ainda que tinha.
- Dínamo: O que um negócio que é – ou pretende ser – inovador ganha ao contratar mulheres para compor e liderar suas equipes?
Ele está atendendo a imperativos éticos que são pilares do sentido da existência humana em comunidade. Ele está se dando a chance de reverter uma cadeia de injustiças que se repete de forma generalizada.
MARIANA MACARIO
Cadeia de injustiças essa, que constrói riquezas materiais e simbólicas para alguns às expensas de outros. Digo “dando a chance”, porque esse é um passo potente, mas longe de ser suficiente para realizar a justiça.
- Dínamo: Os desafios são vários e ainda há muito o que ser transformado, mas na sua perspectiva, o que mais te incomoda na situação das mulheres no universo da inovação tecnológica hoje em dia?
Mariana: Sua solidão, em vários sentidos. O fato de serem poucas traz uma série de consequências perversas, como a de ser ver tendo que representar “a categoria” (que não existe, coloco em aspas para ser crítica), ser mais cobrada do que seus pares homens. O sentimento de solidão e o excesso de autocobrança.
Mais que tudo, me incomoda na situação das mulheres, o fato de internalizarem a ideia de que são atitudes individuais que trazem mudança. Ou seja, de que sua representatividade (ou seja, o fato de estarem lá “representando a categoria”) é sinal de transformação do sistema.
Mariana Macario
- Dínamo: E o que poderia ser feito para mudar esta realidade?
Mariana: Que nós mulheres continuemos a investir em nossa inconformidade, nossa educação como agentes de transformação e o fortalecimento de nossos laços baseados não apenas no fato de sermos mulheres, mas em valores como a solidariedade e a justiça.
- Dínamo: Qual mulher te inspira no ambiente de inovação tecnológica brasileiro? (suas ídolas/ heroínas ou referências)
Mariana: Maitê Lourenço, Monique Evelle, Arlane Gonçalves, Ana Fontes, Nina da Hora.
- Dínamo: Aponte uma tendência em inovação tecnológica para os leitores prestarem atenção em 2022?
Mariana: Economia do cuidado e segurança alimentar.
- Dínamo: O que você deseja para 2022?
Mariana: Que a gente termine o ano com a volta da democracia.
- Dínamo: O que você vai fazer quando a pandemia acabar? (será que ela acaba?)
Mariana: Acredito que vai acabar. Quero juntar um montão de gente para comemorar meu aniversário de 40 anos, que foi no ano passado.
- Dínamo: Que filme/ livro/ série você curtiu nos últimos tempos ou que te marcou e você gostaria de indicar? (Comente um pouco para o leitor ter um pouco de contexto)
Mariana: Eu tenho me emocionado muito com livros de ficção sobre as relações entre a humanidade e a terra e os seres vivos em geral. “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, e “Canto eu e a montanha dança”, de Irene Solà, são meus destaques.
