Em seu livro “21 Lições para o Século 21”, Yuval Harari afirma que o século XXI poderia criar a sociedade mais desigual na história. Segundo o autor, embora a globalização e a internet representem pontes sobre as lacunas que existem entre os países, elas ameaçam aumentar a brecha entre as classes.  

Harari traz a ideia de que temos ciência e tecnologia suficientes para sobreviver a quase todo tipo de tragédia que, em outros tempos, representaria o fim da humanidade. Mas o que é realmente determinante – e falta nos dias de hoje – é a vontade política. É preciso regulamentação – ainda que mínima – por parte do Estado, para que todo o avanço seja aplicado ao bem estar público e não apenas para o benefício de poucos, ou para os interesses daqueles que têm poder econômico. 

Durante a pandemia o abismo social ficou ainda mais evidente no Brasil, sobretudo na educação. Por aqui os últimos anos foram marcados pela evasão escolar: em 2020, cerca de 5,5 milhões de crianças e adolescentes ficaram sem acesso à educação, com um contingente de abandono escolar da ordem de 1,38 milhão de alunos – que é quase o dobro da taxa média brasileira antes da pandemia. Estes são dados apontados no estudo do UNICEF “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar”. Somado a isso, tivemos uma queda vertiginosa na busca por educação superior. O abandono da educação gera uma crise efeito dominó em várias outras áreas como saúde, segurança e empregabilidade.

Enquanto muitas escolas e universidades privadas puderam contar com a tecnologia neste período, se adaptando de maneira rápida às mudanças impostas pela crise sanitária, o ensino público (já precarizado) ficou ainda mais abandonado pelo Estado. A migração do presencial para o remoto já era desafiadora por si só para toda a rede educacional, que dirá sem as políticas públicas necessárias para alunos e professores.  Precisamos olhar esta ferida aberta há décadas e buscar meios de apoiar, sobretudo, os que mais precisam. 

beatriz Bevilaqua

Sem dúvida, as edtechs estão sendo fundamentais nesta transição para a educação híbrida, por meio do uso de inteligência artificial e realidade aumentada, sugerindo um currículo mais flexível e adaptado às demandas da atualidade.  Estão sendo testadas novas metodologias e experiências de aprendizagem, novas tecnologias e novas alternativas na educação. 

Para se ter uma ideia, no ano passado, as startups brasileiras de educação cresceram 28% e arrecadaram U$ 525,6 milhões em aportes. De acordo com um levantamento recente da Distrito, as startups de educação em atividade no país estão distribuídas em nichos como: ensinos específicos (22,4%), novas formas de ensino (22,2%), plataformas para a educação (20%), ferramentas para instituições (17,5%), foco no estudante (11,1%), conteúdo educativo (4,1%) e financiamento do ensino (2,7%). 

A crise da Covid-19 revelou que precisamos estar preparados para qualquer imprevisto e que a inovação é uma grande aliada neste sentido – se bem gerenciada, planejada e estruturada pela gestão pública. Segundo um mapeamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), a região Sudeste é a que abriga mais edtechs (58,7%), seguida pelo Sul (20,7%), Nordeste (10,4%), Centro-Oeste (8%) e Norte (2,3%). Dentre os Estados, São Paulo lidera em quantidade, com 37,5%. Depois vêm Rio de Janeiro (9,7%) e Minas Gerais (9,5%). 

É mais do que necessário a elaboração de políticas públicas de auxílio e fomento à educação pública de qualidade para todas as regiões do país. Somente assim, poderemos formar e reter talentos no Brasil, gerando mais oportunidades locais e movimentando a economia brasileira.

Neste pós-covid, Tecnologia e Educação devem andar cada vez mais juntas, mas devemos lutar para que o acesso chegue para a maioria e não para a minoria. A educação precisa ser prioridade, já passou da hora. Que saibamos pressionar, acompanhar e cobrar o governo, e escolher com mais responsabilidade os nossos representantes este ano.