Rafaela Nicolazzi é Gerente de Políticas Públicas e Relações Governamentais do  Google em Bruxelas, começando sua carreira no Brasil onde foi uma das conselheiras e fundadoras do Dínamo. Apaixonada por política, inovação e regulação, atualmente lidera assuntos sobre governança de dados para a Europa. Ela é formada em direito e com mestrado em Direito Internacional Privado pela USP

Confira mais uma entrevista da série “9 perguntas para mulheres brasileiras na inovação tecnológica”

  1. Dínamo: O que é inovação para você? (O seu conceito de inovação, aquele que você mais usa, mais acredita ou vivencia na prática)

Rafaela: Inovação é a habilidade de ser criativa e converter essa criatividade para resolver um problema, ajudar alguém ou uma comunidade. É a capacidade de descomplicar o complicado de maneira simples, efetiva e disruptiva!

  1. Dinamo: O que um negócio que é – ou pretende ser – inovador ganha ao contratar mulheres para compor e liderar suas equipes?

Rafaela: De maneira geral, já é comprovado que negócios que investem em diversidade têm maior retorno financeiro e têm performances maiores que a média. Priorizar mulheres na liderança e garantir oportunidades equitativas para que elas possam crescer profissionalmente e assumir cargos de liderança são pilares essenciais para impulsionar soluções criativas, eficientes e que, de fato, levem em consideração a opinião e ponto de vista de pessoas com backgrounds diversos. Mulheres na liderança inspiram outras mulheres a serem como elas e são muitas vezes vistas como modelos e inspirações pelas suas colegas de trabalho, trazendo não só motivação, mas a aspiração de um dia também estarem lá. Quantas de nós não se vestiu quando criança de Mulher Maravilha porque ela era uma das únicas super-heroínas em meio de, tristemente, tantos super heróis?

  1. Dinamo: Os desafios são vários e ainda há muito o que ser transformado, mas na sua perspectiva, o que mais te incomoda na situação das mulheres no universo da inovação tecnológica hoje em dia? 

Rafaela: A pandemia evidenciou diversos problemas sociais enfrentados por mulheres que também trabalham na iniciativa privada e nos deixou mais exaustas ainda! Mulheres que possuem dupla (às vezes tripla) jornada e se viram restritas durante a pandemia sem o auxílio que tinham de suas famílias, amigos ou profissionais.

Mulheres carregam nas costas obrigações desproporcionais se comparadas aos homens e isso gera consequências devastadoras ao seu desempenho e crescimento profissional, se o ambiente de trabalho não reconhece esses desafios e proporciona as ferramentas para que elas possam lidar com eles.  

Rafaela Nicolazzi
  1. Dinamo: E o que poderia ser feito para mudar esta realidade?

Rafaela: Empresas que possibilitam flexibilidade de horários, apoiam o “home office” e investem em benefícios para seus funcionárixs com foco na saúde e bem-estar (não só da mulher, mas da sua família), criam ambientes de acolhimento para mulheres que têm que lidar com demandas tanto no ambiente profissional quanto no ambiente pessoal e familiar. Sem falar da importância da liderança dessas empresas em abraçar essa questão, falar abertamente sobre o assunto criando conscientização e encorajar nós mulheres a se valer destes benefícios. 

  1. Dinamo: Qual mulher te inspira no ambiente de inovação tecnológica brasileiro? (suas ídolas/ heroínas ou referências)

Rafaela: Inovação para mim é também ter comunicação efetiva e utilizar meios de comunicação para disseminar conhecimento, inspiração e informação. Por isso, eu sou muito fã de mulheres como a Gabriela Prioli ou Amanda Gorman, que conectam estes elementos no seu trabalho e admiro demais o trabalho da Ana Fontes da Rede Mulher Empreendedora e sua capacidade de impactar a vida de tantas mulheres!

  1. Dinamo: Aponte uma tendência em inovação tecnológica para os leitores prestarem atenção em 2022?

Comunicação também é inovação: em um mundo de abundância de informações, ideias e pluralidade de canais digitais que evoluem e mudam constantemente, saber como e onde se comunicar é chave para impulsionar soluções inovadoras.

Rafaela NICOLAZZI

Investir em estratégias de comunicação, seja ela para comunicação pessoal, para seu negócio ou para curar informação de qualidade que ajude pessoas. Esta é uma tendência que observo como um diferencial para trazer impacto no seu setor. Um exemplo é o projeto Isa.bot da Think Olga, uma robô programada para informar e acolher mulheres em casos de violência doméstica ou online, fornecendo apoio e ferramentas de como se proteger e conteúdo sobre como apoiar mulheres para se sentirem seguras. 

  1. Dinamo: O que você deseja para 2022?

Rafaela: Que 2022 seja de muita reconexão mas ao mesmo tempo que seja um ano em que os desafios e aprendizados dos últimos anos tenha nos tornado pessoas mais generosas, empáticas e que nos conecte mais com nossa essência e propósito de vida! Que possamos chegar em dezembro afirmando que os números de mulheres em cargos de liderança aumentaram consideravelmente com relação ao ano anterior; com queda no número de violência doméstica contra mulheres e que tenhamos aumentado nossa rede de apoio e sororidade e cada mulher possa dizer que tenha feito a diferença na vida de outra! 

  1. Dinamo: O que você vai fazer quando a pandemia acabar? (será que ela acaba?)

Rafaela: Se tem algo que aprendi com a pandemia foi desfrutar mais do presente e viver cada momento como se fosse único! O que eu irei fazer quando a pandemia acabar será viver intensamente cada segundo, estar mais presente e desfrutar dos pequenos prazeres da vida como um passeio em um dia de sol no inverno ou tomar um café com um amigo. 

  1. Dinamo: Que filme/ livro/ série você curtiu nos últimos tempos ou que te marcou e você gostaria de indicar? (Comente um pouco para o leitor ter um pouco de contexto)

Rafaela: Como uma profissional que trabalha com relações governamentais, adoro ler e ver séries sobre política e mulheres. Assisti ao documentário “Knock Down the House” que conta a história de quatro mulheres, Alexandra Ocasio-Cortez, Amy Vilela, Cori Bush e Paula Jean Swearengin que concorrem às eleições do Congresso americano e estou atualmente assistindo a série “Borgen”, drama político sobre a história da ascensão de uma política ao cargo de primeira ministra da Dinamarca e dizem ser inspirada na história de Margrethe Vestager, Comissária da União Europeia. Sou fã de biografias e adorei o livro da Michelle Obama  “Minha História” da Michelle Obama e estou lendo a história do Sérgio Vieira de Mello que foi um diplomata brasileiro e Alto Comissário da ONU.