Arlane é Consultora e Palestrante de Diversidade, Equidade e Inclusão. Em 2021 esteve à frente do Mapeamento inicial de Políticas e Iniciativas públicas de Inclusão de Gênero e Raça no ecossistema
de Inovação, impulsionado pelo grupo Dínamo.

É com ela que vamos abrir a série sobre mulheres na inovação. Vamos ver o que ela tem a dizer? 😉

  1. Dínamo: O que é inovação para você? (O seu conceito de inovação, aquele que você mais usa, mais acredita ou vivencia na prática)

Arlane Gonçalves: Inovação é encontrar novas soluções para velhos problemas. Às vezes essas soluções são com ferramentas que já usamos, às vezes são com ferramentas que criamos e, às vezes, são para velhos problemas que nem sabíamos que tínhamos.

2. Dínamo: O que um negócio que é – ou pretende ser – inovador ganha ao contratar mulheres para compor e liderar suas equipes?

Arlane Gonçalves: Aqui no Brasil, mais da metade da população é de mulheres. O maior contingente populacional é de mulheres negras. E hoje estes dois grupos estão muito longe de ocupar a metade dos postos de comando e decisão nas organizações e na sociedade. Dá para imaginar quanta potência inexplorada temos no nosso país? Então, potência é isso, é uma equação matemática. Colocar mais mulheres para produzir e decidir é igual a potencializar ainda mais os negócios e potencializar a construção de negócios mais sustentáveis.

3. Dínamo: Os desafios são vários e ainda há muito o que ser transformado, mas na sua perspectiva, o que mais te incomoda na situação das mulheres no universo da inovação tecnológica hoje em dia? 

Arlane Gonçalves: A ausência de intencionalidade. Há muita boa vontade envolvida, muito discurso sendo feito, muito evento, muito buzz nas redes sociais. Mas, na prática, há pouquíssimas ações efetivas: investimentos de impacto, mudanças estruturais. Se queremos mais mulheres ocupando novos espaços, é necessário priorizar e focar na inserção delas lá. E isso significa rever todo o nosso modelo de seleção, indicação, contratação, desenvolvimento, promoção e, especialmente, de meritocracia.

4. Dínamo: E o que poderia ser feito para mudar esta realidade?

Arlane Gonçalves: Menos foco no discurso e mais foco na ação. O primeiro passo é alocar recursos financeiros de impacto para as estratégias de inclusão de mulheres. O segundo é implementar programas que desenvolvam habilidades técnicas e sociais, ao mesmo tempo em que o investimento em seus negócios é priorizado e a conexão de mulheres líderes e empreendedoras a contatos, lugares e oportunidades é intencionalmente alavancada. 

5. Dinamo: Qual mulher te inspira no ambiente de inovação tecnológica brasileiro? (suas ídolas/ heroínas ou referências)

Arlane Gonçalves: Nath Finanças, mulher negra periférica que começou a ensinar sobre finanças e suas tecnologias para pessoas de baixa renda no YouTube. O ensino tecnológico é um de seus eixos centrais e a autenticidade do seu trabalho é tamanha que hoje sua atuação é multiplataforma e acumula mais de 1 milhão de pessoas seguidoras.

6. Dínamo: Aponte uma tendência em inovação tecnológica para os leitores prestarem atenção em 2022?

Arlane Gonçalves: O crescimento da Inovação Inclusiva. Ou seja: do uso da tecnologia para resolver problemas que reproduzem a sub-representação de determinados grupos sociais, assim como a revisão das próprias ferramentas de tecnologia para que elas sejam cada vez mais acessíveis a todas as pessoas.

7. Dínamo: O que você deseja para 2022?

Arlane Gonçalves: Desejo a concretização de avanços de real impacto na agenda de Diversidade, Equidade e Inclusão no Brasil, no ecossistema de inovação e além dele.

8. Dínamo: O que você vai fazer quando a pandemia acabar? (será que ela acaba?)

Arlane Gonçalves: Rever e abraçar muito minhas amigas e meus amigos!

9. Dínamo: Que filme/ livro/ série você curtiu nos últimos tempos ou que te marcou e você gostaria de indicar? (Comente um pouco para o leitor ter um pouco de contexto)

Arlane Gonçalves: Indico o livro “Continuo preta: A vida de Sueli Carneiro”. Esta é uma leitura que me marcou bastante porque estamos tendo a oportunidade de conhecer, reconhecer e homenagear uma mulher de imensa importância para o Brasil enquanto ela está viva. Poder ler a história de Sueli Carneiro e todas as coisas que ela fez em prol das pessoas e mulheres negras, especialmente a partir do Instituto Geledés – e poder me dizer contemporânea dela, é de uma indescritível honra.

Arlane, agradecemos a conversa. Se o objetivo desta entrevista era inspirar outras mulheres, foi alcançado com sucesso.